8 de janeiro de 2013

“MEU ENGAJAMENTO NA COMUNIDADE NÃO ESTÁ NA PARTICIPAÇÃO EM FESTAS, MAS NA DEFESA DE SEUS INTERESSES.”

Entrevista para Desiderio Peron da Revista Insieme


Claudia Antonini dá as razões de sua candidatura ao Parlamento Italiano e não poupa críticas à atuação dos Comites
 

Nascida em Porto Alegre-RS, 46 anos, formada em Comunicação Social pela PUC/RS (com mestrado em Relações Públicas Europeias em Roma e especialização em Ensino da Língua Italiana em Perugia), Claudia Antonini não tem papas na língua. Diz o que pensa com todos os acentos – o gaúcho e o italiano. Ela é, de novo, candidata a uma cadeira na Câmara dos Deputados da República Italiana nas eleições que se avizinham, pelo PD - Partido Democrático – o mesmo em que se elegeu Fabio Porta nas últimas eleições, em 1988, com 15.932 votos (Claudia obteve 9.749 votos).


Nessa entrevista exclusiva ao site de Insieme, ela critica a atuação dos Comites - Comitati degli Italiani all'Estero e, principalmente, dos consulados, que “tratam mal, humilham e não cumprem a lei”. “Minha atitude – conta ela, que comparece a reuniões oficiais com recursos de seu próprio bolso - desconcerta os conselheiros e o pessoal dos consulados e embaixadas”.


“O pessoal dos consulados e embaixada, acostumados a serem incensados, elogiados e paparicados pelos conselheiros – observa a candidata -, olham-me de forma meio atravessada, pois não gostam de serem questionados, não estão dispostos ao diálogo nem a ouvir. Qualquer questionamento parece ser uma incomodação”. Na última reunião de Brasília, na sede da Embaixada, ela foi impedida, segundo conta e dá nomes, de participar sob a alegação de que a reunião dos Conselheiros do CGIE – Consiglio Generale degli Italiani all'Estero era sigilosa.
 

Claudia comanda em Porto Alegre, há 17 anos, um escritório que rotula de “assessoria para cidadania, pesquisa e traduções”, e as “filas da cidadania” constituem uma de suas motivações de luta. Outra é a falta de representação da comunidade ítalo-brasileira. Confira o teor de sua entrevista:


Claudia Antonini define Claudia Antonini:


Sou uma estudiosa sempre disposta a ouvir e aprender, uma apaixonada pelas causas que abraço. Sou participativa e proativa,  com profunda identificação com as questões sociais e culturais da comunidade italiana e, mesmo quando as condições não são as melhores, não esmoreço, tento negociar e obter pelo menos parte do que me propus. Enfim, sou uma italiana típica, muito teimosa!


Que motivações a levaram candidatar-se?
 

Sou filiada ao PD (Partito Democratico), mas, assim como ocorreu em 2008, não apresentei meu nome. Foi o partido que pediu minha participação. Os motivos? Acredito que faço diferença por conhecer profundamente todos os pontos de contato da nossa comunidade local com a Itália: a assistência, a cultura e os serviços consulares.
 

Já atuei em patronato assistencial -- fui responsável pelo patronato ITAL UIL no RS --, fui vice presidente cultural de um ente gestor por 2 mandatos, além disso, administro um escritório de assessoria para cidadania, pesquisa e traduções há 17 anos. Já atendi mais de 4 mil famílias de descendentes e muitíssimos italianos que chegam aqui desnorteados. Estando ao lado do consulado a tanto tempo digamos que a experiência é grande.
 

Meu engajamento na comunidade não está na participação em festas, mas na defesa de seus interesses. Posso afirmar que sou a única conselheira de Comites do Brasil que pede para participar de reuniões do Intercomites e da Embaixada, pagando sempre de meu próprio bolso as despesas. Os demais costumam se apresentar apenas quando lhes é financiada a viagem. Você sabe disso. Também creio ser a única que leva material informativo para compartilhar com os demais, que apresenta argumentos sólidos baseados na lei italiana.
 

Minha atitude desconcerta os conselheiros e o pessoal dos consulados e embaixadas. Os presidentes de Comites, mesmo tendo sido eleitos com os votos de nossa comunidade, acreditam que os pedidos de cidadania cessarão com a liberação de vistos brasileiros para os EUA! Ou seja, consideram que os descendentes estão apenas interessados num documento de viagem e não em sua identidade cultural. O pessoal dos consulados e embaixada, acostumados a serem incensados, elogiados e paparicados pelos conselheiros, olham-me de forma meio atravessada, pois não gostam de serem questionados, não estão dispostos ao diálogo nem a ouvir. Qualquer questionamento parece ser uma incomodação. Na reunião de Sistema de Brasília deste ano – para a qual eu havia recebido permissão da Embaixada para participar – , fui impedida pelo conselheiro (do CGIE - Consiglio Generale degli Italiani all'estero - NR) Claudio Pieroni de participar. Ele usou o argumento que as reunião do CGIE são sigilosas... Eu vi e vivi isso, portanto, não é uma opinião mas um simples relato.


Por qual razão escolheu o PD?


Eu era filiada à DS, portanto, portanto, quando surgiu o PD, minha adesão foi natural. O PD é um partido como poucos. É um partido que acredita no coletivo, que não busca estrelas para seu plantel de candidatos. É anti-populista. 
 

Como disse antes, não sou candidata de ir a festas, a inaugurações, a missas, eu pesquiso e denuncio, explico para o descendente como obter seus direitos. Meu escritório tem 7 funcionárias. Posso dizer que passamos nossos dias prestando informações que os oriundos e os italianos recém chegados não conseguem receber dos consulados e dos Comites. Outra característica que admiro profundamente no PD é a paridade entre homens e mulheres. Em nossas listas, temos sempre 50% de homens e mulheres e isto faz com que, no parlamento italiano, o partido já tenha alcançado 29% de mulheres em sua bancada. No Brasil, esta média é inferior a 10%.


Como analisa o desempenho dos parlamentares eleitos pela circunscrição exterior até aqui?


Posso falar dos parlamentares da América do Sul. Estes, exceto por Fabio Porta, o único italo-brasileiro, atuaram de forma vergonhosa. Merlo (Ricardo Merlo, deputado ítalo-argentino, fundador do Maie - Movimento Asociativo Italiani all'Estero - NR) compareceu a menos de 30% das sessões da câmara e, quando compareceu, votou equivocadamente por falta de atenção ou experiência. Votou contra nossos interesses e confessou. Outros mudaram de partido no momento que entraram no parlamento; outros estão sendo processados por fraude nos correios argentinos; ou seja, se continuarmos assim, nunca seremos respeitados. Meu partido é o único que trata como igual o parlamentar eleito no exterior. Basta ver a participação dos parlamentares do PD nas sessões e nos projetos do partido.


Que problemas entende como específicos da comunidade ítalo-brasileira?


O primeiro de todos: a falta de representação. Seja em conselheiros de Comites e de CGIE, seja em número de cidadãos. Imagine que somos 28 milhões de oriundos. Destes, somente 288.472 são eleitores e ainda – como noticiaste mais de uma vez aqui na Insieme - temos mais de 500 mil ítalo-brasileiros na fila, uma fila de 7 anos. Vamos pegar o exemplo da Argentina, que tem a segunda maior comunidade. Eles tem 20 milhões de oriundos e 664.387 eleitores, mais que o dobro dos nossos. Lá, não há filas. Nossa comunidade local não acredita mais nos consulados, está desmoralizada, perdeu até a vontade reclamar. Não sente pertencer àquele serviço consular que a trata mal, a humilha e não cumpre a lei. E aqui não falo só do reconhecimento da cidadania, falo do atendimento em geral, da espera para a emissão até de um simples passaporte, falo da falta de contato com a comunidade, a qual deveria ser motivo de orgulho, de alegria.
 

Sem um número representativo de cidadãos reconhecidos, acabamos por perder oportunidades. É um círculo vicioso. Estatisticamente, na lista de italianos no exterior, não somos tão significativos quanto deveríamos, por isso temos consulados menores, menos agências consulares, menos funcionários, menos investimentos, menos verbas para cursos e para a assistência e assim por diante. Enquanto não vencermos este obstáculo, enquanto não tivermos representatividade numérica, a coisa continuará como está.
 

Como imagina sua atuação no Parlamento Italiano?
 

Como uma atuação séria, objetiva, digna, que honrará o mandato que me for confiado. Combaterei em outra frente o problema que considero o maior de nossa comunidade: a falta de representatividade, repito. Quero usar a voz na tribuna e a permanência em Roma para explorar todos os meios legais, administrativos e políticos possíveis a fim de reverter este quadro. Este é um circulo vicioso que precisa ser quebrado.


Outras considerações que queira fazer:


Merlo e o associacionismo de USEI (Unione Sudamericana Emigrati Italiani - NR) e outras listas preponderam na Argentina. A única chance dos italo-brasileiros terem representação parlamentar será votando massivamente no PD. Foi assim que obtivemos a eleição para o senado em 2006 e para a câmara em 2008. Peço à comunidade que pense nisso, que verifique como os números são claros e que escolha ter representantes ítalo-brasileiros no parlamento italiano.